segunda-feira, 30 de setembro de 2013

"Feios" de Scott Westerfeld

Capa do livro na Edição Brasileira.



Sinopse:


Tally está prestes a completar 16 anos, e ela mal pode esperar. Não por sua carteira de motorista – mas para se tornar bonita. No mundo de Tally, seu aniversário de 16 anos traz uma operação que torna você de uma horripilante pessoa feia para uma maravilhosa pessoa linda e te leva para um paraíso de alta tecnologia onde seu único trabalho é se divertir muito. Em apenas algumas semanas Tally estará lá. Mas a nova amiga de Tally, Shay, não tem certeza se ela quer ser bonita. Ela prefere arriscar sua vida do lado de fora. Quando ela foge, Tally aprende sobre um lado totalmente novo do mundo dos bonitos – que não é tão bonito assim. As autoridades oferecem a Tally sua pior escolha: encontrar sua amiga e a entregar, ou nunca se transformar em uma pessoa bonita. A escolha de Tally faz sua vida mudar pra sempre.



Título: Feios (livro 1)
ISBN: 978-85-01-08370-8
Número de Páginas: 415
Autor: Scott Westerfeld
Editora Galera Record





Lendo nas entrelinhas:

- Qual o problema com as pessoas hoje em dia? – A garota tinha 13 anos e já se fazia perguntas do tipo: sou uma psicóloga analisando o mundo a minha volta.
- Não seja tão rígida consigo mesma, querida. – Sua mãe tinha a notória impressão que a menina ia ter, a qualquer momento, um ataque depressivo.
- Mãe, todos ao meu redor querem que eu seja e haja como uma modelo de manequim sem inteligência. Esquecem que eu tenho sentimentos.

Uma conversa típica, não acha? Poderia ser entre pai e filho ou entre amigas de 30 anos. O fato é que sempre começa com a razão do mundo achar você feio, o “feio” pode ser também em relação as suas escolhas. Acontece que somos analisados e reagimos pelo o que as pessoas pensam sobre a gente. Não nos damos conta de que ser você mesma, agir segundo sua própria consciência não afetada é ser normal. E ser normal é não ser perfeito. E é isso que o mundo não espera.

Falando em perfeição. Eis que surge um ótimo livro sobre o assunto, "Feios" de Scott Westerfeld, lançado pela Editora Galera Record. Este Bestseller não só fala sobre a tirania da beleza, como também decodifica esse desejo do ser humano por alcançar um perfil inabalado de estética. Cirurgias plásticas, paradigmas estéticos, crises autodepreciativas, entre outros temas emergem no enredo. O autor traz para o leitor um ambiente futurista e enigmático, em que os jovens ao completar 16 anos ganham um “presente” do governo: uma cirurgia plástica. Ser perfeito é quesito para ser aceito em Nova Perfeição, cidade em que se passa parte da história. Tally, protagonista, está prestes há completar 16 anos e não vê a hora disso acontecer para deixar de ser feia e se tornar uma jovem perfeita em folha. Ser normal é ser feia nessa sociedade.


"Na escola, tinham ensinado como aquilo afetava as pessoas. Não importava se você sabia alguma coisa sobre evolução - ainda assim funcionava. Em todo o mundo. 
Havia um tipo de beleza, um encanto que todos viam. Olhos grandes e lábios grossos, como crianças; pele sedosa e brilhante; traços simétricos; e milhares de outras pistas. Em algum lugar no fundo de suas mentes, as pessoas buscavam esses sinais permanentemente. Ninguém podia evitar notá-los, qualquer que fosse sua criação. um milhão de anos de evolução haviam tornado aquilo parte do cérebro humano.
Os grandes olhos e lábios diziam: sou jovem e vulnerável, não posso machucá-lo e você quer me proteger. O resto dizia: sou saudável, não vou deixá-lo doente. E, não importava como se sentia em relação a um perfeito, uma parte de você sempre pensava: Se tivermos filhos juntos, eles também serão saudáveis. Eu quero essa pessoa perfeita..." (p.20).


O que não está longe da nossa realidade, já que muitos jovens se espelham em exemplos de modelos estéticos e padrões de beleza inalcançados. O resultado é uma doença física aqui (anorexia) e outra psicológica ali (depressão). E esquecem que existem muitas coisas por trás da “perfeição” e que as pessoas podem sim viver com padrões “normais” ou “feios” como diz no livro. 


"Os rostos feios eram sempre assimétricos: um lado nunca correspondia ao outro. Por isso, a primeira providência do software de criação de morfos era pegar um lado e duplicá-lo, como se fosse um espelho, para obter dois exemplos de simetria perfeita. A verdade é que as duas versões dimétricas de Shay já pareciam melhores do que a original. 
- Então, Shay, qual você acha que é seu melhor lado? 
- Por que tenho de ser simétrica? Prefiro um rosto com lados diferentes." (p.45). 


Já li todos os livros da série, sim essa é mais uma trilogia (Feios, Perfeitos e Especiais), que também inclui um quarto livro chamado Extras. E acredito que a obra é mais que um romance futurista de ficção científica, ele tenta abrir a mente do leitor para além da visão capitalista e estética da nossa sociedade. Na história, há poucos meses de se tornar perfeita, a protagonista Tally conhece Shay, uma "feia" que não quer ser perfeita, desafiando o modo de vida em Nova Perfeição e, principalmente, tudo o que isso representa para esta sociedade futurista. Tally e Shay se tornam amigas, embora tenham pensamentos muito diferentes sobre a operação cirúrgica. Tally não vê a hora de se tornar perfeita e se juntar a seu melhor amigo Peris na cidade. Enquanto Shay articula uma maneira de fugir deste destino. Durantes os três meses que separam as duas da data marcada para a operação que tornará ambas perfeitas, as amigas se aventuram pelas profundezas da floresta ao redor de Nova Perfeição e descobrem rumores de uma comunidade inteiramente isolada de todas as imposições de beleza e estética da cidade para os "perfeitos".


"- Não é culpa dela, Sol - disse Tally. - Ela só não queria se tornar perfeita.
-  Então ela é uma pensadora independente. Ótimo. Só que devia ter o bom senso de não arrastar outra pessoa para o buraco com ela.
- Ela não me arrastou a lugar algum. Estou bem aqui. - Tally olhou pela janela para a paisagem familiar de Nova Perfeição. - Onde, pelo visto, vou ficar para sempre.
- Bem... - voltou a falar Ellie. - Eles disseram que assim que você decidir ajudá-los a encontrar essa Shay, tudo poderá prosseguir normalmente." - (p.116)
A vida de Tally muda drasticamente quando sua amiga, Shay, ao descobrir uma forma de fugir desse mundo perfeito, parte em busca do Acampamento da Fumaça - lugar no meio da selva que abriga um grupo de rebeldes que são contrários as cirurgias plásticas. Então, justo no dia mais importante de sua vida - quando estava prestes a ser operada e ter o rosto que sempre sonhou -, Tally é obrigada a fazer uma escolha muito difícil para ajudar a Dra. Cable do Circunstâncias Especiais - equipe do governo que trata apenas de assuntos especiais de proteção aos habitantes de Nova Perfeição. Ou Tally sai em busca da amiga e, assim, informar o paradeiro dos rebeldes ao governo; ou a moça será impedida de fazer a cirurgia e nunca se tornará perfeita. 

"Ir a qualquer lugar era uma absoluta tortura. Os feios do seu dormitório tratavam-na como uma doença ambulante, e todo mundo que a reconhecia acabava perguntando: 'Por que você não virou perfeita ainda?' Era estranho. Era feia havia quatro anos, mais aqueles poucos dias adicionais tinham deixado claro o real significado da palavra." - (p.120)

Não suportando toda a pressão imposta pela Dra. Cable e pela humilhação de ser feia, Tally é obrigada a partir em uma jornada que mudará a vida dos esfumaçados e, mais do que isso, mudará a sua concepção de mundo. Toda a jornada até o Acampamento da Fumança e o pouco tempo em que Tally passará com os rebeldes levará a jovem a refletir sobre o real significado das cirurgias plásticas e como isso afeta a personalidade das pessoas. Pois há um mistério por detrás desse mundo perfeito e manipulador, um segredo obscuro. Para mim, com a leitura desse livro, percebi que ser perfeito não é o bastante. A verdade é que ser perfeito deve significar não só uma aparência física impecável, como também uma mente saudável. Se não, qual o benefício da beleza em virtude de uma consciência abalada? Pense no assunto. É só uma questão de amadurecer a sua visão do mundo e perceber que ser normal é ser feliz consigo mesmo. Em breve, eu trarei a resenha dos outros livros da série. Espero que tenham gostado, pois eu amei a leitura. E recomendo! 




Abaixo vocês podem conferir uma série das capas do livro ao redor do mundo.


Capas americanas (1º e 2º Edições).



Capa da Inglaterra e de Portugal.



Capas da Sérvia e Republica Tcheca.



Capas iguais na Alemanha e Lituânia.



Capas da China e do Japão.



Capas da Indonésia e Itália.



PS: Confesso que amei a capa brasileira e também a capa da Alemanha. E vocês, o que acharam das capas? E qual mais gostaram?

sábado, 28 de setembro de 2013

Batman- O filho do Demônio




Sinopse: Batman é obrigado a se aliar ao seu maior adversário para deter um terrorista sanguinário e insano que obtém o controle de uma máquina capaz de manipular o clima. Assim, o Cruzado Encapuzado se vê em uma difícil situação, tendo de caçar o sádico criminoso e, ao mesmo tempo, proteger Talia, a mulher que pode estar carregando em seu ventre o filho do Homem-Morcego.


Roteiro:  Mike W. Barr
Arte: Jerry Bingham
Número de páginas: 88 páginas
Editora: DC Comics – Panini Books





Pitacos da Gibiteria:

Todo o desenrolar da história se inicia quando, depois de um roubo numa fábrica de produtos químicos e de um assassinato, Batman se vê obrigado a se aliar ao seu maior inimigo, Ra’s al Ghul, para combater um terrorista, o Qayin.

Ra’s al Ghul tem uma filha, Talia, que é apaixonada pelo Bruce Wayne. Ao sugerir uma união de forças, Ra’s impõe uma única condição: Bruce deve se casar com a sua filha. A partir deste momento, sob o meu ponto de vista, toda a história envolvendo o Qayin e sua máquina com capacidade de controlar a temperatura climática, tornam-se coadjuvantes.

Ao final da leitura, pude constatar que tudo que havia acabado de ler não era, definitivamente, uma das histórias sobre investigação e comprometimento com a justiça, características predominantes no Batman, mas do solitário Bruce Wayne. Claro que, tamanha variação traria pontos positivos (por não dizer, momentos curiosos?) e negativos então vamos lá mencioná-los.

Os pontos negativos são muitos. Mais uma vez, assim como na resenha do Batman Asilo Arkham, houve uma descaracterização do personagem e nada tem haver com a tentativa de humanizá-lo. Primeiro, quando o Ra’s propõem uma aliança e em seguida oferece a mão da Talia, deixando claro que só aceitaria o sim como resposta ou do contrário não haveria acordo algum e então o Batman aceita sem sequer hesitar(?). Nenhum plano estratégico por trás desse “sim”? Poderia ate pensar que existia alguma ironia nesta resposta, porém o Batman não tem como uma das suas “características” o sarcasmo. Segundo, ao aceitar se casar com Talia e no momento seguinte, declara intenso amor dizendo que “nunca houve espaço para outra mulher em sua vida” (Oi?!). E por fim, depois de todo um diálogo pra lá de meloso, “dorme” com a Talia resultando assim no óbvio, sua gravidez. A partir de então, o Batman começa a repensar seus objetivos e abdicar a carreira de combatente do crime.

"Seus olhos se fecham...e toda vez que isso acontece, ele vê seus pais morrerem." "... ou como padeceu, tendo que crescer sozinho... e rejeitou uma vida normal com família e amigos, impulsionado por uma força maior do que ele mesmo." - Batman. 



Batman e Talia.

Os pontos positivos, se assim poderia dizer, temos um batman humano. Casado e futuramente pai de família, romântico e extremamente cuidadoso e obcecado com a gravidez de sua esposa, reflexos do seu trauma não superado no passado ao ter seus pais mortos e desde então levado uma vida solitária. Um verdadeiro choque para quem vem acompanhando a saga do Morcego e ao mesmo tempo curioso também. O roteirista nos apresentou um Batman que, todos nós em algum momento, desejávamos conhecer caso ele levasse uma vida comum como a nossa (“E se ele não fosse rico?”, “E se ele fosse casado?”, “E se ele fosse um pai de família?”, “E se...? Como seria?”).

Finalizando minha linha de raciocínio, não poderia deixar de mencionar, claro, as ilustrações. A arte do Jerry Bingham bem ao estilo década 70/80, trazendo uma anatomia bem realista dos personagens. Consequentemente, encontramos com o Batman ao estilo clássico (Vocês sabem do que estou falando, né? Aquela sunga por cima da calça!).



Bem, comentários a parte, se tu, guria ou guri, és fã do Morcego então digo que a leitura vale a pena. Nada melhor do que lermos e termos nossa própria opinião. Além disso, é interessante ler algo totalmente fora do previsível.  


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Crônicas da Vida Moderna


A vida hoje em dia está uma loucura não é mesmo? Quem poderia imaginar há alguns anos que a internet se transformaria tanto? A vida moderna merece ser representada e apresentada, para isso a Coluna "Lendo nas Entrelinhas" desta segunda-feira traz uma coletânea de crônicas sobre o cotidiano na era 2.0. Começando com uma sobre assunto do momento. Aproveitem!



"Ser antissocial está em alta" (Thaíssa Dilly)

Chegou prometendo ser a melhor mídia social já inventada. Os brasileiros adoraram. Até as crianças já possuem um perfil. Polêmica, muita polêmica. Isso foi o que ele criou para muitas pessoas. Do que estou falando? Facebook, é claro! E para alguns ainda adeptos ao Orkut. Mesmo esse não sendo mais tão famoso por aqui quanto o Facebook, por isso seu rival toma muito mais o tempo das pessoas. Mais de 80% dos brasileiros usam o Facebook, segundo o Ibope. E não se esqueça do Twitter.

Nossa, o que será que irão inventar mais? Admito também tenho um perfil, mas não o uso de forma libidinosa. Um ponto a meu favor. Porque? Convenhamos que o Facebook não é um site de relacionamentos, então, porque as pessoas tendem a montar o seu perfil como se o cara do outro lado da tela fosse o Brad Pitt a procura de brasileiras quentes ou se a garota que está vendo o seu perfil fosse uma atriz que estivesse a procura de um namorado anônimo? Calma, não estamos aqui para discutir a preferência das pessoas. Sim, estamos aqui para discutir a forma com que as pessoas usam o Facebook. Por que é um tema que não sai da cabeça do povo.



Semana passada recebi várias solicitações de amizade. Um cara que estudou comigo anos atrás. Uma menininha do meu bairro. Um programa da rádio que eu escuto. E uma antiga amiga de infância. Só que nem todos os dias eu consigo dar uma olhada no Facebook, com a rotina, as vezes, somente nos finais de semana. Resultado: a moda é dizer que você é antissocial só porque não aceitou fulaninho no seu perfil.

Quem inventou essa coisa de que tem que aceitar todo mundo no Facebook? Alguém não conhece a expressão 'antes só do que mal acompanhada'? Por que é isso que acontece. Várias pessoas te mandando convites, sendo que 65% delas nem mesmo falam com você pra dizer 'bom dia' ou 'com licença'. Que isso? E depois eu sou a antissocial. Nem vou comentar sobre os convites para participar de joguinhos e outros tipos de aplicativos, pois eu ficaria aqui falando por horas.




Tudo bem, o Facebook é uma ótima forma de manter contato com aquelas pessoas que você não vê frequentemente. Ou aquelas que você conheceu há tempos, se mudou para outro estado e que você acabou encontrando em um grupo ou página da sua escola da época do ensino médio. É uma rede social, portanto deve ser usada como ferramenta de interação. Mas será que tipo de interação? Preste atenção! Você coloca fotos no álbum e espera que as pessoas comentem (ou não, algumas apenas bisbilhotam mesmo). Você participa de grupos e páginas e, as vezes, nem mesmo volta para ver o que tem de novidade por lá. Você espera chegar o aniversário do coleguinha de Facebook só para enviar a ele um recado.

Isso, minha gente, é o que está em alta no momento. O perfil virou apenas um book fotográfico online, um currículo midiatizado. Vamos mudar esse padrão. Invista no 'bom dia' e 'muito obrigado' aos seus colegas de trabalho e procure dizer pelo menos um 'oi' quando passar por alguém que você conhece. Não espere para enviar um cartão de aniversário por email, vá ao encontro da pessoa e lhe dê um abraço. Tenho certeza que você conseguirá mais amigos assim do que apenas adicionando eles em seu perfil.



sábado, 21 de setembro de 2013

Batman- Asilo Arkham: uma séria casa em um sério mundo




Sinopse: Asilo Arkham: Uma séria casa em um sério mundo é um impactante conto de horror psicológico protagonizado por Batman e praticamente todos os internos do Asilo Arkham, o lar dos criminosos insanos de Gotham. Liderados pelo Coringa, esses pacientes  - Duas-Caras, Chapeleiro Louco, Crocodilo, Cara de Barro, Espantalho e muitos outros – dominam as dependências do lugar e tomam como reféns seus empregados. Eles pretendem libertar os pobres funcionários, mas somente se uma condição for cumprida: O Homem-Morcego deve se entregar... e se tornar um deles!

Roteiro: Grant Morrison
Arte: Dave McKean
Número de Páginas:  216
Editora: DC Comics - Panini Books




Pitacos da Gibiteria: 

Falar sobre qualquer história que envolva o Batman diria que é, no mínimo, suspeito embora eu continue afirmando que não gosto do Batman mas sim dos vilões. Quanto à arte do Dave McKean, mais suspeito ainda. Venho acompanhando o trabalho dele e o acho indecentemente genial e nesta graphic novel não seria diferente.

Em Asilo Arkham encontramos a arte do McKean com múltiplas técnicas de ilustração e colagem além de toda a sua expressividade. Muita expressividade! Se tratando do roteiro, Grant Morrison não deixa a desejar, traz uma história carregada de horror, medo, loucura, simbolismos e várias referências.




Toda a trama começa quando o Batman é informado que o Asilo Arkham esta sobre o controle dos internos, chefiados pelo Coringa e este o faz uma exigência: quer o Batman junto com eles e então ter a oportunidade de provar que o Morcego é tão louco quanto todos os vilões. Paralelamente, é narrada a história do Asilo pelo diário do Amadeus Arkham, o fundador.


“Durante o longo período da doença de minha mãe, a casa sempre parecia tão vasta, tão REAL, que, em comparação, eu me sentia um FANTASMA assombrando seus corredores.  Vagamente consciente de que algo podia existir além daquelas melancólicas paredes. Até aquela noite em 1901, quando vislumbrei aquele OUTRO mundo. O mundo no lado negro.”  - Amadeus Arkham.


Batman, cedendo ao pedido do Coringa, comparece na mansão e a partir de então é submetido a alguns testes, que acabam deixando-o afetado. Uma das grandes falhas começa justamente a partir deste momento em diante. Temos um Batman amedrontado e fragilizado diante de seus inimigos mesmo conhecendo todas as suas técnicas e estratégias psicológicas.


Medo?  Batman não tem medo de nada. Sou eu. É de mim que tenho medo. Medo de que o coringa esteja certo sobre mim. Às vezes, questiono a racionalidade de minhas ações. Tenho medo de que, quando atravessar os portões do asilo... 
...Quando entrar no Arkham e as portas se fecharem atrás de mim... Eu me sinta voltando para casa.”Batman.


Outra grande falha, para mim a mais grave, se trata da edição brasileira. O letreiro digital comprometeu toda a expressividade da arte do McKean. E mais, se tratando especificamente dos diálogos do Coringa, a leitura chega a se tornar ilegível. Desabafo: tentem imaginar o quanto foi incômodo para uma pessoa com alta miopia ler esta hq durante a noite com um letreiro indecifrável. Isso tornou toda a leitura cansativa e estressante. Em determinados momentos pensei em interromper a leitura e desistir.

Edição Panini: letreiro relacionado ao diálogo do Coringa.

Apesar das falhas já citadas acima, indicaria esta leitura principalmente para os fãs do Morcego. O conjunto da obra é simplesmente admirável. Há um equilíbrio absurdo entre as ilustrações e o roteiro tornando toda a atmosfera mais sombria ainda. Encontramos também uma forte referência ao livro Alice no país das Maravilhas, do Lewis Carroll, onde temos o encontro do Batman com o Chapeleiro Louco nos remetendo uma possível versão de horror do conto infantil.

Por fim, a explicação do que é o Asilo Arkham,  quem foi o podre Amadeus e quais situações e caminhos o levaram para o mundo da loucura. A partir de então, conseguimos compreender toda a complexidade e psicologia não apenas do Arkham e seus internos mas do próprio roteiro mostrando-nos que cada um dos vilões residentes daquele local representa nossos demônios internos e que precisam ser encarados.



“E eu volto às minhas perambulações rituais. Meus movimentos pela casa se tornaram tão formais quanto um balé, e sinto que sou agora parte essencial de algum processo biológico incompreensível. A casa é um organismo faminto por loucura. É o labirinto que sonha.  E eu estou PERDIDO.” - Amadeus


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

"Quem é você, Alasca?" - por John Green



Sinopse:

Miles Halter é um adolescente fissurado por célebres últimas palavras — e está cansado de sua vidinha segura e sem graça em casa. Vai para uma nova escola à procura daquilo que o poeta François Rabelais, quando estava à beira da morte, chamou de o “Grande Talvez”. Muita coisa o aguarda em Culver Creek, inclusive Alasca Young. Inteligente, engraçada, problemática e extremamente sensual, Alasca levará Miles para o seu labirinto e o catapultará em direção ao Grande Talvez. "Quem é você, Alasca?" narra de forma brilhante o impacto indelével que uma vida pode ter sobre outra. Este livro incrível marca a chegada de John Green como uma voz importante na ficção contemporânea.

Título: Quem é Você, Alasca?
Título Original: Looking for Alaska
ISBN: 978-85-7827-342-2
Páginas: 229
Autor: John Green
Editora: Martins Fontes





Eu li, se você não... – desta vez direi no começo – Leia!


Quando criamos grandes expectativas, geramos juntamente uma possibilidade de decepção esmagadora. Mergulhamos de cabeça na certeza que encontraremos algo grandioso e profundo, mas algumas vezes batemos de cara em uma pedra, pois não passa de uma poça rasa. E sim, eu mergulhei de cabeça no raso...

“Quem é você, Alasca?” é narrado por Miles, nosso personagem principal, ou quase isso. A história do nosso protagonista não é muito complexa, ele é um nerd que não possui amigos de verdade e têm uma vida pouco interessante morando com os pais. Mas há algo peculiar nesse garoto, Miles Halter coleciona últimas palavras de pessoas importantes. Não importa se são ex-presidentes, artistas ou autores renomados, como também pouco importa as suas obras ou feitos, as bibliografias são seu único interesse. Entre muitas últimas palavras que leu, as de François Rabelais lhe chamou a atenção: “Saio em busca de um Grande Talvez”. O que é uma frase um tanto estranha para quem está prestes a encarar a morte. Motivado por tais palavras, Miles decide mudar de escola a procura do seu próprio Grande Talvez, sem precisar que a morte venha busca-lo. E é esta busca que guia a história.

No colégio interno de Culver Creek, logo em seu primeiro dia, Miles conhece seu colega de quarto e futuro amigo, Chip Martin que tem uma personalidade forte e autoritária, o que faz jus a seu apelido de Coronel. Aquele veterano o ensinaria a sobreviver na escola, mas antes de qualquer coisa apelida Miles de Gordo. O que é uma grande ironia, já que o garoto não passe de um magrelo de shorts largos. Juntos os dois aprenderem na prática o significado da palavra lealdade, sendo provados em situações que nem sempre conseguem entender, mas ainda assim ambos se mantêm firmes e unidos.

“Gordo”, o Coronel disse. “Porque você é magricela. Isso se chama ironia, Gordo. Já ouviu falar? Agora vamos arranjar uns cigarros para começar o ano com o pé direito.”

Ele saiu do quarto, novamente supondo que eu o seguiria, e dessa vez eu o segui. Felizmente, o sol estava baixando no horizonte. Passamos por cinco portas até chegarmos ao Quarto 48, Um quadro-branco tinha sido grudado na porta com fita adesiva. Nele se liam as seguintes palavras em tinta azul: Alasca tem quarto só pra ela!

O Coronel me explicou que (1) aquele era o quarto da Alasca, que (2) a garota que dividia o quarto com ela tinha sido expulsa no final do semestre anterior e que (3) Alasca tinha cigarros, embora o Coronel não tivesse se dado ao trabalho de perguntar se (4) eu fumava, o que (5) não era o caso.

Miles era o personagem principal, ou quase isso, lembram? Alasca protagoniza grande parte da história, apesar de não ser a narradora ou nada assim. Ela é garota pela qual Gordo se apaixona, tornando-se a pivô dos acontecimentos daquele ponto em diante. Divertida, animada e perspicaz, Alasca preenche o enredo com suas ideias, tramas e loucuras. Apaixonada por livros ao ponto de possuir pilhas e mais pilhas entulhadas em seu quarto – batizados por Alasca como a “Biblioteca da Minha Vida” – mesmo que não tenha lido todos. A misteriosa garota também possui uma frase que guia a sua vida. “Como sairei deste labirinto?” por Simón Bolívar no livro O general no seu labirinto. E está é mais uma dúvida que paira sobre a cabeça de Miles... “O que é o labirinto?” Afinal, não se pode escapar de algo que nem mesmo sabemos o que é. Alasca tem tudo para ser uma personagem interessante, porém um segundo ela é encantadora, mas no instante seguinte consegue ser arrogante, indiferente e cruel. Sua instabilidade abala a todos, inclusive o leitor. Uma hora você ama Alasca, na outra você a odeia.
“Sabe quem você ama, Gordo? Você ama a garota que faz você rir, que vê filmes pornográficos e bebe com você. Mas não a garota triste, mal-humorada, maluca.”
E ela tinha razão.
– página 98
 

Juntos formam um trio imbatível – o Gordo, Alasca e o Coronel – as diferenças entre eles, mesmo que muitas vezes discrepante, não conseguem afasta-los. Um convívio de amor e ódio eterno. Só que eu esperava muito mais que apenas um simples romance sobre três amigos do ensino médio que não tinham nada muito interessante pra fazer, por isso estudavam e vez ou outra vadiavam, bebendo, fumando e aprontando. A história que começou morna, esfriou com o tempo... porém em um determinado ponto, tudo deixou de ser monótono, mas não de uma hora para outra. As coisas evoluíram e ganharam rumo, enfim o enredo passou a envolver, ao invés de só empurrar o leitor para frente. As minhas expectativas foram todas frustradas nas primeiras 60/70 páginas e foi então que percebi que havia mergulhado de cabeça cedo demais, porque antes precisava dar alguns passos história adentro para encontrar o grandioso, profundo e principalmente misterioso oceano de “Quem é você, Alasca?”.

          (...)Eu queria tanto me deitar ao lado dela, envolve-la nos meus braços e adormecer. Não queria transar, como nos filmes. Nem mesmo fazer amor. Só queria dormir com ela, no sentindo mais inocente da palavra. Mas eu não tinha coragem. Ela tinha namorado. Eu era um palerma. Ela era apaixonante. Eu era irremediavelmente sem graça. Ela era infinitamente fascinante. Então voltei para o meu quarto e desabei no beliche de baixo, pensando que, se as pessoas fossem chuva, eu era garoa e ela, um furação. – página 91
   



“Quem é você, Alasca?” é uma história dividida em duas partes, antes e depois, onde se faz uma contagem regressiva começando com cento e trinta e seis dias antes até chegar ao clímax e prosseguir em uma contagem crescente com o dia seguinte. O grande mistério toma forma no último dia, e foi então que percebi que antes é preciso prepara o leitor para aquilo que está por vir. Tudo se torna enigmático, intrigante e um tanto nostálgico. Impossível não se prender a história em busca do Grande Talvez e de como sair do Labirinto. Não posso ir além destes comentários, afinal cabe a você desvendar esse mistério.



  “O labirinto é uma droga, mas eu o escolho.” – página 222.    


Leia e responda se puder: “Quem é você, Alasca?”





segunda-feira, 16 de setembro de 2013

"Querido John" por Nicholas Sparks


Apresentação do livro.


Sinopse:

“Querido John”, dizia a carta que partiu um coração e transformou duas vidas para sempre.
Quando John Tyree conhece Savannah Lynn Curtis, descobre estar pronto para recomeçar sua vida. Com um futuro sem grandes perspectivas, ele, um jovem rebelde, decide alistar-se no exército, após concluir o ensino médio. Durante sua licença, conhece a garota de seus sonhos, Savannah. A atração mútua cresce rapidamente e logo transforma-se em um tipo de amor que faz com que Savannah prometa esperá-lo concluir seus deveres militares. Porém ninguém previa o que estava para acontecer, os atentados de 11 de setembro mudariam suas vidas e do mundo todo. E assim como muitos homens e mulheres corajosos, John deveria escolher entre seu país e seu amor por Savannah. Agora, quando ele finalmente retorna para Carolina do Norte, ele descobre como o amor pode nos transformar de uma forma que jamais poderíamos imaginar.


Título: Querido John
ISBN: 978-85-63219-02-2
Número de Páginas: 288
Autor: Nicholas Sparks
Editora Novo Conceito
























Lendo nas entrelinhas:

Neste livro, eu aprendi algo diferente sobre o amor. Sim, há uma forma melhor de amar. Na verdade, existem várias maneiras, é claro, mas este amor que une corações só é entendido de uma forma e isto é o que conduz este livro. O verdadeiro e mais sincero amor.

Quem já teve uma paixão de verão? E se essa paixão fosse algo maior do que você tenha imaginado ou até sonhado? E se a distância entre o casal atrapalhasse esse romance? Tudo isso você encontra no surpreendente livro "Querido John" de Nicholas Sparks. Comprei esse livro em uma promoção, e me surpreendi com o autor. Sério! Eu já tinha ouvido falar nesse romance, mas juro que ele superou as minhas expectativas. 

"Mas ele ainda era meu pai, e não houve milagre. Depois de mostrar as moedas e contar como as tinha encontrado, seus comentários diminuíram. Ele percebeu que começara a se repetir, o que o deixou mais retraído e silencioso. Com o tempo, Savannah percebeu seu crescente desconforto, pois apontou as moedas em cima da mesa e disse: - Obrigado, senhor Tyree. Eu realmente aprendi muita coisa." - John (p.97).

Deixando um pouco de lado o romance do casal, eu gostaria de destacar que podemos também observar nesta obra o complicado relacionamento entre pai e filho, que vai além de brigas e conflitos. John foi criado apenas pelo pai, o senhor Tyree. Ele é um homem de meia idade, agora aposentado, que trabalhava como entregador dos correios em Wilmington, Carolina do Norte. O Sr,Tyree tem um talento especial, ele é colecionador de moedas, não qualquer tipo, as mais raras são sua especialidade. Durante a história, John conta como ele mesmo era muito empolgado pela coleção de moedas do pai enquanto criança, era este o assunto principal de suas conversas e viagens com o pai. No entanto, o jovem acaba perdendo este interesse durante a adolescência e, por fim, quase nem mais conversavam.

"Quando penso em você e eu e no que compartilhamos, sei que para os outros seria fácil menosprezar o tempo que passamos juntos simplesmente como um subproduto dos dias e noites à beira-mar, uma 'aventura' que, a longo prazo, não significa absolutamente nada. É por isso que não conto às pessoas sobre nós. Eles não iriam entender, e não sinto a necessidade de explicar, simplesmente porque sei em meu coração como foi real." - trecho de carta da Savannah para John (p.153).

O enredo parece bem simples, John e Savannah se conhecem em um verão e se apaixonam. Vivem durante apenas duas semanas um amor intenso e irresistível. Mas nem tudo é tão simples assim. John de licença, está servindo na Alemanha para o exército. Savannah é uma estudante universitária. A partir daqui já temos uma noção do quanto complicado fica a vida dos dois depois do verão, mas a distância ainda não os separa. Então, os dois escolhem compartilhar cartas durante o ano, essa foi a solução encontrada por eles para diminuir o sofrimento. Entretanto, outras problemas surgem no caminho desse jovem casal. Os acontecimentos do livro são narrados pelo John, assim, temos principalmente o seu ponto de vista sobre o relacionamento dos dois e toda a história. No entanto, por meio das cartas que Savannah envia ao amado também conhecemos melhor a personalidade da moça.

"Sim, nós nos correspondíamos e conversávamos ao telefone. Sim, eu tinha ido observar a lua na primeira noite de lua cheia, e ela disse que havia feito o mesmo em suas cartas. Mas eu não a via há quase um ano, e não tinha nenhuma ideia de como ela reagiria quando estivéssemos cara a cara novamente." - John (p.157).

Então, o que você faria com uma carta que mudasse tudo? Leia o livro e descubra.

E tem mais. Se você se interessou pelo romance, mas não curti muito este tipo de literatura, saiba que o livro "Querido John" foi adaptado para o cinema, pelo diretor Lasse Hallström com o filme de mesmo nome. Então, corre para a locadora mais próxima e procure por esse sucesso. Aproveita e prepara o lencinho por que eu chorei muito. Fica a dica.


Trecho retirado do prólogo.

sábado, 14 de setembro de 2013

O Maravilhoso Mágico de Oz



Foto extraída do site pipoca e nanquim


Sinopse:

O Mágico de Oz, de L. Frank Baum, foi publicado em 1900 e desde então passou pelas mais diversas adaptações que se estenderam desde os musicais da Broadway, filmes até peças teatrais. O sucesso resultou em uma continuação de livros de Oz e, consequentemente, inúmeras releituras e sequências oficiais e não oficiais surgiram desde então.

A mais recente adaptação feita pela Marvel, em 2009, com roteiro de Eric Shanower e a arte do Skottie Young tem como principal propósito trazer algo próximo ao fiel da história original, onde o resultado final encanta não somente as crianças mas também os adultos.

A versão em quadrinhos traz ninguém mais do que já conhecida Dorothy, que é arrastada de sua terra natal, Kansas, por um ciclone indo parar em um mundo mágico e misterioso cheio de bruxas boas e más. A partir de então, começa sua jornada para a Cidade Esmeralda, onde se encontra o grande Mágico de Oz, o único capaz de leva-lá de volta para sua casa. Ao longo do percurso ela conhecerá o Espantalho, ansioso para ter um cérebro, o triste Homem de Lata, sonhando ter um coração e o covarde Leão.


Título: O Maravilhoso Mágico de Oz
Número de páginas: 218
Categoria: Edição Especial
Editora: Marvel - Panini Books


Capa do livro


Pitacos da Gibiteria:

Diria que este é um quadrinho para se ter em sua estante. O livro, apesar de infantil, consegue atingir todos os públicos sem se tornar chato e desgastante. Particularmente, adorei os traços delicados e sutil do Young além dos tons pastéis trazendo um ar de nostalgia.

Detalhes do belo trabalho do Young


Um dos diálogos que encontramos ao longo da história onde, acredito que sim, o autor dá uma cutucada no leitor e o põe para pensar, esta entre as conversas do Espantalho com o Homem de Lata:


“Mesmo assim, ainda vou pedir um cérebro em vez de um coração, pois um tolo jamais saberia o que fazer com um coração se tivesse um.” – Espantalho(p.44).
“Vou ficar com o coração, pois um cérebro não faz ninguém feliz, e felicidade é a melhor coisa do mundo.” – Homem de Lata(p.44).


Outro momento incrível, é a forma genial como o Mágico de Oz soluciona o problema de cada um dos coleguinhas da Dorothy sem fazer absolutamente nada, apenas trabalhando o psicológico deles de uma forma indireta, mostrando que grande parte dos nossos problemas se encontra em nosso consciente, provando que, as vezes, os obstáculos somos nós mesmo e ninguém mais.








A história em si, é carregada de várias mensagens e lições de moral não só por parte da pequena Dorothy mas também de seus companheiros de viagem, tornando o conjunto da obra mais encantador ainda. Segue um conselho desta guria que vos fala: LEIAM! Por vários motivos, desde o incrível roteiro, a degustação das ilustrações, os ensinamentos de vida.



Especial Noite de Sexta-13


As razões que me levam a escrever hoje, nesta noite entorpecida de sexta-feira 13, são três: primeiro que eu não poderia deixar esta data tão propícia passar em branco - ou preto -; segundo, por se tratar de um dia especialmente macabro. O que nos leva ao meu terceiro motivo: quer noite melhor para ler uma história de suspense aterradora? 

Por isso, escolhi resenhar o livro "A Menina que Não Sabia Ler" de John Harding.


Apresentação do livro.


Sinopse:

1891. Nova Inglaterra. Em uma distante e escura mansão, onde nada é o que parece, a pequena Florence é negligenciada pelo seu tutor e tio. Guardada como um brinquedo, a menina passa seus dias perambulando pelos corredores e inventando histórias que conta a si mesma, em uma rotina tediosa e desinteressante. Até que um dia Florence encontra a biblioteca proibida da mansão. E passa a devorar os livros em segredo. Mas existem mistérios naquela casa que jamais deveriam ser revelados. Quem eram seus pais? Por que Florence sonha sempre com uma misteriosa mulher ameaçando Giles, seu irmão caçula? O que esconde a Srta. Taylor? E por que o tio a proibiu de ler? Florence precisa reunir todas as pistas possíveis e encontrar respostas que ajudem a defender seu irmão e preservar sua paixão secreta pelos livros - únicos companheiros e confidentes - antes que alguém descubra quem ousou abrir as portas do mundo literário. Ou será que tudo isso não seria somente delírios de uma jovem com muita imaginação?


Título: A Menina que Não Sabia Ler
ISBN: 978-85-62936-11-1
Número de Páginas: 282
Autor: John Harding
Editora Leya



Capa e contracapa do livro.



Lendo nas entrelinhas:

Eu não sou daquelas garotas que gostam de filmes de terror - do tipo Massacre da Serra Elétrica -, principalmente, por causa do sangue, e por não ter uma história cativante; melhor dizendo, nesta última só há sangue. Enfim, neste livro de John Harding você vai encontrar horror e sangue - um pouco dos dois -, no entanto, existe aqui uma história por detrás disso tudo. Tem um enredo amarrado. Seguindo a trilha dos romances obscuros de Edgar Allan Poe e Henry James, o autor se destaca pela narrativa verdadeiramente sinistra e perturbadora, mas, ao mesmo tempo, intrigante e viciante. Não sei como explicar de outra forma, mas é estarrecedor e inebriante ao mesmo tempo. 

"É uma história curiosa a que tenho de contar, uma história de difícil absorção e entendimento, por isso é uma sorte que eu tenha as palavras para cumprir a tarefa." A Menina que Não Sabia Ler (p.13).

A primeira coisa que você, leitor, precisa saber sobre esta história é que um livro pode se tornar uma arma poderosa nas mãos de uma menina, principalmente, se todos dizem que ela não pode de forma alguma aprender a ler. Então, preparem-se para conhecer Florence.

"Blithe tem dois corações, um quente, um frio; um iluminado, outro sombrio mesmo no dia mais ensolarado" - Florence (p.83).

Florence é uma órfã de 12 anos que mora em uma mansão de pedra rústica com muitos cômodos, tão imensa que o seu irmão caçula, Giles, tão rápido nas pernas quanto na cabeça, leva três minutos ou mais para percorrê-la. Blithe House é um grande celeiro, uma casa desconfortável e deteriorada pela prudência, negligência, com os gastos controlados rigidamente pelo tio ausente das crianças. O imóvel possui vazamentos buracos, traças e ferrugem, fria, mal iluminada, repleta de cantos escuros, de modo que, apesar de ter vivido toda a sua vida, até onde Florence consegue se lembrar, às vezes, especialmente às vésperas do inverno, quando vem caindo o crepúsculo, a menina sente tremores.

"É claro que eu não sabia ler, mas por algum motivo isso me deixava ainda mais maravilhada, todos os milhares - acho que milhões - de linhas codificadas com impressão indecifrável. Muitos livros eram ilustrados, com xilogravuras e gravuras coloridas, citações frustantes logo abaixo, cada uma delas mostrando a miserável impotência do tracejar dos dedos" - Florence (p.15).

Durante uma brincadeira de esconde-esconde, a menina abre uma porta estranha, uma que até aquele momento estivera trancada - ou assim ela pensara, provavelmente devido à sua rigidez, que seu eu tão jovem não conseguia vencer -, para se esconder do irmão ali, e descobre um imenso tesouro de palavras. A parir daquele dia, a biblioteca se tornava se principal refúgio na casa. Apenas saindo de lá para participar das refeições, deitar-se ou brincar esporadicamente com Giles; e, claro, quando algum visitante aparecia na mansão.

"Naquele dia em que nevou, imaginei-me impermeabilizada contra o garoto Van Hoosier, mas cometi o mesmo erro que muitas pessoas cometiam comigo (quem imaginaria que eu tinha dois ninhos de livros? Quem imaginaria que eu francesava e shakespearizava?), ou seja, julguei-o pelas aparências." - Florence (p.39).

Florence e Giles viviam sozinhos, exceto pelos empregados da casa e pela Sra. Grouse, que administrava a mansão. Os dois nunca saiam de casa e tão pouco recebiam visitas de seu tio. Apenas os proprietários da residência vizinha, os Van Hoosiers, apareceram uma certa vez; eles tinham um filho, Theo, alguns anos mais velho do que a menina, filho único que queriam desentediar. Somente algum tempo muito mais tarde, quando Giles havia adquirido idade suficiente para ir a escola, e depois de ser convidado a sair da mesmo - por motivos ainda escusos a irmã -, é que foi trazida uma governanta para cuidar da educação da criança. Não da menina, apenas do jovem Giles, pois Florence era terminantemente proibida pelo seu tutor de receber qualquer tipo de instrução e educação.

"Também me recriminei pelos maus pensamentos que estavam em minha cabeça quando ela foi para seu túmulo aquático, pois foi exatamente no dia em que ela me desbibliotecou que eu havia repetido aquelas palavras várias vezes em meu coração: "quero que ela morra, quero que ela morra", mas não queria dizer aquilo, e quando meu desejo foi concedido quase morri de desgosto por não poder retirá-lo." - Florence (p.83).

A srta. Whitaker, na visão de Florence, era uma criatura de coração estritamente gelado. Ela negligenciava Giles, por quem demonstrava menos interesse que em escovar os cabelos e olhar-se no espelho. Na qual, a menina desprezava tanto quanto se culpava por não ter conseguido salvar a sua vida naquele fatídico dia. As circunstâncias de sua terrível morte no lago eram intensamente relembradas pela pobre Florence, que acabou transformando a vida da menina.

"Eu não consegui evitar um grito, por sentir muita dor. Afastei a cabeça e senti um puxão no couro cabeludo e vi que estava livre, enquanto ela segurava uma mecha do meu cabelo. Nós nos encaramos, duas feras em combate mortal, ela de um lado da escrivaninha, eu do outro." - Florence (p.194).

Após semanas de quietude na casa, apenas com a companhia alegre de seu irmão Giles, Florence acreditava que a felicidade havia voltado a Blithe House. Entretanto, tudo estava prestes a mudar, pois a nova preceptora do menino chegaria em poucas horas. E a menina descobriria que a srta. Taylor poderia ser imensamente mais perversa e cruel do que sua antiga governanta. A vida de todos na mansão vai mudar drasticamente, até que a Florence perceba que está sozinha nesta guerra, nem os empregados ou mesmo a polícia acreditam em suas histórias. Ela precisará de toda a sua inteligência, perspicácia e audácia em articular um plano bem rápido. Assim, a menina precisará fazer justiça com as próprias mãos, mesmo que para isso arranque um pouco do sangue e alma da criança para fora de seu corpo. 

"De repente senti uma mão em torno do meu pescoço agarrando-me por trás e outra cobrindo minha boca e meu nariz com um pano de forma que quase sufoquei. O pano tinha um cheiro forte e estranho, como o da cirurgia no dentista e..." - Florence (p.275).

Com muito suspense, uma pitada de obscuridade e horror, além de fantasia e, eu diria também, um toque de romance juvenil - para não dizer primeiro amor, pois a Florence negaria veemente'mente' sentir algo tão forte por um garoto tão magricela e alto -, "A Menina que Não Sabia Ler" consegue prender a leitura até a sua última frase. Você vai se desesperar, emocionar e apaixonar por esta história. Acredite!


Citação inicial do livro.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Daytripper - por Fábio Moon e Gabriel Bá




Sinopse:

Conheça Brás de Oliveira Domingos. Milagroso filho de um mundialmente famoso escritor brasileiro, Brás passa os dias escrevendo obituários e as noites sonhando em se tornar um autor de sucesso – ele escreve o fim da história de outras pessoas enquanto a sua própria mal começou. 

Mas, no dia que sua vida começar, ele será capaz de perceber? Ela começará aos 21, quando ele conhece a garota dos seus sonhos? Ou aos 11, quando dá seu primeiro beijo? É mais adiante na vida, quando seu primeiro filho nasce? Ou antes, quando pode ter encontrado a sua voz como escritor? Cada dia na vida de Brás é como a página de um livro. 

Cada um deles revela as pessoas e coisas que o fizeram ser quem é: sua mãe e seu pai, seu filho e seu melhor amigo, seu primeiro amor e o amor da sua vida. E, como em todas as grandes histórias, seus dias têm uma reviravolta que ele nunca antecipou.


Título: Daytripper
Número de Páginas: 250
Autores/Artistas: Fábio Moon e Gabriel Bá
Cores: Dave Stewart
Editora: Vertigo – Panini Books 

 


Eu li, se você não...

Daytripper é um quadrinho que se equilibra na corda-bamba entre a vida e a morte, onde todos os dias podem ser o último de Brás de Oliveira Domingos. Uma história envolvente, com traços tão marcantes que muitas vezes dispensa palavras e o silêncio de uma cena fala por si só. Mas por outro lado, nenhuma linha é escrita apenas para compor as páginas de belas imagens. Os criadores desta obra conseguiram uma combinação fascinante e surpreendente que transborda sentimento como não via faz tempo.

A história é composta por 10 capítulos onde cada um deles representa uma fase da vida de Brás, porém não há ordem cronológica. Hora nosso protagonista tem 32 anos e escreve o obituário de um jornal qualquer, enquanto seu pai recebe prêmios por ser um autor renomado no dia do esquecido aniversário de seu filho. No próximo capítulo ele pode ter apenas 11 anos, brincar de pega-pega com os primos, aproveitar a família e conhecer o gosto do primeiro beijo. Mas então no capítulo seguinte Brás tem 21 anos e está em Salvador com o seu melhor amigo aproveitando o mar e os encantos de uma misteriosa mulher. Essa história não é como um rio, que segue apenas um curso, sem nunca poder voltar a sua nascente. Brás renasce a cada nova experiência, mas para nascer de novo, primeiro é preciso morrer. 

“As pessoas morrem todos os dias. Este foi o pensamento mais reconfortante que Brás teve enquanto todos os obituários que escrevera para o jornal passavam diante de seus olhos. Ele acabou de perceber que, mesmo quando não está escrevendo sobre isso... as pessoas vão continuar morrendo. Não é engraçado como as pessoas esquecem do trabalho assim que encerram o expediente? Não é estranho como parece que nós sempre lembramos das coisas mais triviais do nosso cotidiano e acabamos esquecendo das mais importantes?” 

 Sim, o nosso protagonista morre... e algumas vezes. O impacto da morte pode ser perturbador no começo, chegando a confundi o leitor que está acostumado com a velha história de “o mocinho não pode morrer nunca”. Daytripper prova que os mocinhos podem sim morrer! E ainda vai além... afinal, por que partir uma única vez quando esbarramos com a morte todos os dias? Porém a morte não é o ponto final dessa história, ela é o ponto de interrogação sobre como vivemos nossas vidas.

“Eu queria escrever sobra a vida, Jorge, e olha pra mim agora... eu só escrevo sobre a morte.” 


Os dias de Brás não são perfeitos e é isso que o torna um personagem tão humano. Ele poderia ser o seu vizinho, um amigo, talvez teu parente, ou um pouco mais que isso... ele poderia ser você. Daytripper expõe em suas páginas a rotina de todos nós: O acordar cedo e tomar um café pra poder começar o dia. Ir trabalhar mesmo que aquele não seja o emprego dos sonhos. Ficar de papo-furado com seu melhor-amigo quando o dia está um tédio. Estar com alguém que acreditamos ser o amor da nossa vida, mas nunca sabemos se realmente é. Essa é a vida de Brás e com certeza parte da tua. A história faz você se sentir em casa, não apenas pelas semelhanças do dia-a-dia, mas também por ser um quadrinho que se passa não em Nova Iorque, Londres ou Paris – nada contra nenhum desses lugares, na verdade admiro cada um dos que citei – entretanto, vai ler sobre o Rio de Janeiro, Salvador e irá se reconhecer na cultura e no ‘jeitinho’ brasileiro de ser. Na minha opinião, os autores foram capazes de criar um laço incrível entre o personagem e o leitor, mesclando fantasia e realidade ao ponto do limite entre elas desaparecer. 


Daytripper não é um relato de como Brás poderia ter morrido, mas sim dos momentos –simples e grandiosos – que ele viveu. Essa história com certeza irá fazer com que coloque na balança o peso do quanto tem aproveitado todos os dias, ou o quanto tem deixado passar sem perceber que justo aquele poderia ser o momento que talvez te marcasse pra sempre.



 “A vida é feita desses momentos, filho. Os relacionamentos se baseiam nesses momentos, nessas escolhas, nesses atos... e é esse momento que vou levar comigo depois que todos desaparecerem – o que vai fazer todos os outros valerem a pena.” 



E se depois de tudo isso ainda têm alguma dúvida, vou sana-la agora. 
Eu li, se você não... Leia!